CHICO XAVIER – O FILME

Chico Xavier - O Filme
O ano era 1971. Eu, então com 10 anos de idade, vejo na TV um homem danado de feio, com uns óculos escuros enormes na cara, sendo entrevistado e depois ele se debruça e começa a escrever. Pergunto a meu pai quem era aquele homem e ele, que não era espírita, me responde que ali estava um homem extraordinário. Um homem muito evoluído. Alguém que só fazia o bem. Não me lembro direito dos termos usados por ele, mas meu pai não era de elogiar à toa. Ouvir isso de meu pai, geralmente tão crítico a respeito de todos, me fez ter imediato respeito por aquele desconhecido, que descobri se chamar Chico Xavier.

Coincidência ou não, o filme “Chico Xavier” é todo pautado por cenas desse mesmo programa de TV, chamado “Pinga Fogo”. Então imaginem qual não foi minha emoção ao ver, no filme, cenas que vi quando tive meu primeiro contato com o médium.

O tempo passou desde 1971. Deixei de ser católico, me tornei protestante e, por fim, sem religião definida. Até que, aos 14 anos, li meu primeiro livro espírita, “Nosso Lar” escrito pelo espírito André Luiz (que terá sua versão cinematográfica lançada ainda esse ano). Foi como se eu reencontrasse com algo que eu já conhecesse e não sabia de onde. Desde então, sou espírita, com fases mais praticantes, outras menos. Mas sempre acreditando na doutrina codificada por Allan Kardec.
Nelson Chico Xavierr
Hoje assisti ao filme, que está rapidamente se tornando a maior bilheteria do ano. Não posso realmente achar um ponto negativo a citar. Direção muito boa, sem exageros, mas sem ser rústica. Interpretações magistrais. Todo mundo fala da incrível interpretação de Nelson Xavier (tem momentos que realmente esquecemos que não é o Chico), mas Angelo Antonio também está ótimo como Chico mais jovem. Giovanna Antonelli consegue passar uma emoção que nos leva às lágrimas. E a dupla Tony Ramos e Cristiane Torloni dão um show (e olha que eu não morro de amores por eles). Ela, talvez utilizando a tragédia pessoal de ter perdido um filho de forma tão traumatizante, chega a ter momentos que nem parece mais uma personagem, mas a própria atriz passando seus sentimentos.
Angelo Antonio Chico Xavier
Para quem não sabe ou não tem certeza, o filme não tem nada de ficção. Tudo que ali é mostrado ocorreu. Os jornalistas que entrevistaram Chico. A psicografia em diversos idiomas que ele desconhecia. As respostas extremamente técnicas provocadas por perguntas dos jornalistas. A ação de herdeiros de Humberto de Campos (que passou a assinar Irmão X desde então para evitar que seus herdeiros pedissem direitos autorais de suas obras). E até o uso de uma mensagem sua num processo criminal como “testemunha”. Nada foi inventado. Tudo realmente ocorreu, embora muitos hoje não saibam.

A trilha sonora, quase toda de Egberto Gismonti é de uma competência e beleza exemplares. Ela acompanha o filme todo, ajudando nas partes mais intensas, sem ofuscar a história.

Quando eu estava na fila, aguardando para entrar, deu para notar que as pessoas saíam da sala tentando esconder as lágrimas. Muitas entravam no banheiro para se recompor e uma moça que estava na fila voltou do banheiro comentando que tinha muita gente chorando lá dentro. Ao terminar o filme pude saber o motivo. Não é um choro de sentimentalismo barato, mas uma coisa que nasce naturalmente à medida que ouvimos as frases de Chico (reproduzidas literalmente pelo ator Nelson Xavier).

E, ao sair, encontrei uma fila imensa (aliás, o único filme a ter fila naquele dia) aguardando para a próxima sessão. Isso prova que o Espiritismo e os simpatizantes da doutrina espírita devem ser muito mais numerosos do que os Censos têm mostrado. Já conheci “católicos espíritas” e até “judeus espíritas”. Ou seja, parece segundo time de futebol…

Antes de “Chico”, um trailer do filme “Nosso Lar” mostra uma produção aparentemente de padrão internacional, com efeitos especiais impressionantes. Os dois filmes fazem parte da comemoração do centenário de nascimento do médium.

Não pude deixar de achar muito oportuno o lançamento tanto de um filme quanto do outro, nesses tempos onde muitos espíritas estão misturando conceitos externos à Doutrina e se afastando dos principios fundamentais dela. Assim, quem sabe, as pessoas se interessem por ler obras mais profundas, onde realmente aprenderão algo, deixando de lado os tais “romances espíritas” que se tornaram caça-níqueis onde conceitos superficiais da Doutrina são deturpados em favor de historinhas bonitas.
Chico e Emmanuel
Mas uma coisa que me supreeendeu no filme foi o retrato que fizeram de Emmanuel, o espírito guia de Chico. Sempre achei os livros de Emmanuel de uma erudição fria, contrastando com os de André Luiz, muito mais dramáticos e humanos. Mas, no filme, Emmanuel chega a ser até cruel com Chico. De uma frieza impressionante, chega a criticá-lo por parar de psicografar quando seu olho começa a sangrar. Mas, imagino, que num filme que parece ter sido tão cuidadosamente pesquisado, esse temperamento do guia deva ser algo que o próprio Chico tenha descrito. E talvez quanto mais espiritualizado seja, menos as atribulações mundanas incomodem ou preocupem um espírito.

Por fim, só tenho a dizer o que eu disse no Twitter e no Facebook. Quem assistir a esse filme e não se emocionar, seja de que religião for, deve procurar o cardiologista urgente, porque não tem coração…

Termino essa postagem com uma frase. A primeira psicografada por ele, ainda quando criança:

“Meus filhos, ninguém escarneça da criação. O grão de areia é quase nada, mas parece uma estrela pequenina refletindo o Sol de Deus…”

(Escrito em 14/04/2010 para um blog não-espírita)

Sobre Maurício M. Vilela

Espírita desde a adolescência, tenho tentado estudar o suficiente para saber separar o joio do trigo.
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Uma resposta para CHICO XAVIER – O FILME

  1. Antonio Crialesse disse:

    Realmente Dr. Mauricio este filme é muito tocante e consegue quebrar o mais duro dos corações! Vale a pena rever….Abs

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