DOCES EXPIAÇÕES E PROVAS ABENÇOADAS

 Nos livros da Codificação, aprendemos que os planetas podem ser classificados conforme os espíritos que o habitam e conforme a finalidade da encarnação que esses espíritos experimentam naquele planeta. Também aprendemos que a Terra está no nível de mundo de expiações e provas. O nível seguinte seria mundo de regeneração. (1)

Mais tarde, fomos informados de que a mudança de um nível para o outro estava prevista para breve. Poucos espíritas compreenderam que o conceito de “breve” para um espírito é bastante diferente do nosso. Um planeta que evolui há milhões de anos, pode evoluir “brevemente” em alguns séculos…

Desde então, inúmeros autores espíritas, encarnados ou desencarnados, têm tentado, em vão, prever quando essa mudança ocorreria. Esquecem que, para entender o futuro, precisamos conhecer o passado. Antes da Terra ter se tornado um mundo de expiações e provas foi um mundo primitivo, o nível imediatamente anterior. E como essa mudança se deu? De uma hora para outra? No curso de um ano? Obviamente que não! A mudança, deve ter ocorrido por volta da Idade do Bronze, (com a chegada da raça adâmica) que ocorreu entre 3.300 AC e 1.300 AC, ou seja, levou dois mil anos!

Provavelmente a próxima mudança não irá demorar tanto. O mundo está “menor”, as informações correm na velocidade da internet e a população tem sido preparada ao longo de séculos, com bons exemplos de amor ao próximo, abnegação e caridade. Isso mesmo! A despeito das atitudes erradas que se vê, praticamente ninguém pode alegar que desconhece bons exemplos de conduta. As únicas exceções são poucas tribos isoladas da Amazônia ou de ilhas do Pacífico, que nem sabemos se ainda existirão quando a transição vier a ocorrer.

Porém, mesmo que demore muito menos que a mudança anterior, seria ingênuo de nossa parte esperar uma mudança abrupta, em minutos, horas ou mesmo ao longo de um determinado ano, nos moldes do arrebatamento idealizado por algumas religiões cristãs. E, ainda assim, não será sem um certo sofrimento por parte de todos os envolvidos.

Ultimamente, temos visto muitos confrades espíritas falarem dessa transição planetária como se fosse o “bug do milênio”, um evento com data fixa e previsível. Alguns chegam a citar o ano. Nota-se, em alguns, até uma certa ansiedade impaciente, como uma criança na véspera de receber um presente de Natal. Menções ao nível evolutivo atual do nosso planeta, com um certo ar de desprezo, também têm sido comuns.

Indispensável compreendermos que a Terra não irá se tornar um mundo de regeneração sem ter cumprido totalmente sua função como mundo de expiação e provas. E que nenhum espírito que ainda veja as provas e expiações como algo ruim está preparado para habitar um mundo de regeneração. Por isso devemos agradecer por podermos não mais habitar um mundo primitivo, como fizemos no passado, e ainda podermos ter quantas oportunidades forem necessárias para expiarmos nossas faltas e passarmos por provas suficientes para no elevar espiritualmente, a fim de podermos merecer habitar num mundo de regeneração.

E estamos realmente preparados para essa transição? Podemos afirmar com certeza absoluta que iremos habitar a Terra quando esta sofrer a mudança para mundo de regeneração, ao invés de irmos para outro mundo de expiação e provas?

Muitas vezes nos vemos condenando uma pessoa por ela ter seguido um caminho infeliz, tomado uma decisão errada na vida, cometido um falta grave. Mas quem nos garante que, nós mesmos, expostos ao mesmo ambiente e situação que aquela pessoa, não teríamos cometido os mesmos deslizes ou até mesmo pior? Quantos de nós nos pegamos desejando a pena de morte a um criminoso que comete um crime hediondo, demonstrando uma falta de confiança na Justiça Divina, como se alguém pudesse ser vítima de um crime por puro acaso?

E as constantes críticas aos políticos e governantes, nos esquecendo que nenhum está ali por acaso? Que cada um tem sua missão e que, se não a cumprirem adequadamente, terão que prestar contas futuramente. Políticos corruptos são mais dignos de pena do que de ódio.

E as condenações, cada dia mais comuns no meio espírita, ao comportamento sexual de outras pessoas, num claro esquecimento do que Emmanuel nos aconselha sobre o assunto? O guia de Chico Xavier, parecendo prever o puritanismo que invadiria as fileiras espíritas, orientou : “Companheiros da Terra, à frente de todas as complicações e problemas do sexo, abstende-vos de censura e condenação” (2)

Isso tudo nos leva a questionar se, até mesmo nós que conhecemos os princípios da Doutrina Espirita, estamos tão elevados assim para desdenharmos do nosso “mundinho” de expiações e provas. A resposta surge um tanto mais constrangedora quando nos comparamos com algum espírito extremamente elevado, que habitou a Terra, como Eurípedes Barsanulfo.

Diante dessa resposta, fica claro que, ao apontarmos nosso planeta como “atrasado”, como se assim não o fôssemos, estamos agindo como aquele jovem inconsequente que não viu a hora de terminar seu ano letivo, somente para depois constatar que o ano seguinte ainda era mais difícil e cheio de matérias a serem assimiladas…

(1) – Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 3
(2) – Emmanuel – Vida e Sexo – “À Margem do Sexo” – Psicografia de F. C. Xavier

Maurício Menezes Vilela
Publicado em O Clarim
Novembro/2011